18/03/2022

Alameda da Saudade de Edu Manzano


 por: Ed Oliver

Inaugurando esta sessão onde dividirei com vocês minhas impressões sobre os quadrinhos mais relevantes que li, que me marcaram e que muitas vezes percebemos que passam despercebidos da grande mídia e nos sobrevém o impulso de fazer alguma justiça a este trabalho.

Peço que me permitam deixar inaugurar  esta sessão com uma obra minha, não que a veja como algo grandioso, mas alameda da saudade tem um carinho especial em meu coração de autor e leitor pelo formato e até um certo pioneirismo em termos de Brasil em sua temática. 


Alameda da Saudade foi criada e desenhada por mim entre os anos de 1998 a 2005 ( nessa época eu ainda assinava como Edu Manzano), eu que venho da explosão criativa dos fanzines em meados dos anos 80, criador junto a outros autores do estilo conhecido com "quadrinhos poético filosóficos", sempre coloquei em minhas hqs uma faceta humanista, mesmo em meu período com super heróis, em minhas histórias podia se perceber ali no meio da receita, esta faceta, onde em um momento pessoas comuns viravam protagonista e suas vidas mostravam -se muito mais interessantes que a trama heróica em si. Aqui dá para se perceber claramente minhas influências de Gilbert Hernandes e Terry Moore


Assim as hqs curtas que se tornariam a alameda da saudade, foram imaginadas colocando-se em foco a vida de pessoas comuns que viveriam numa mesma rua no coração da fria e cinzenta grande São Paulo.
Ao pensar no trabalho eu imaginei uma trama de fio condutor que era o fato de todas aquelas pessoas e histórias terem acontecido na mesma vila, onde sua única rua era chamada alameda da saudade, em anos e épocas diferentes e o lugar age como personagem e influência no modo como as pessoas ali amadureceram e aprenderam com as histórias de suas vidas.

As 8 histórias que compõem a revista trazem desde o triste olhar de rodrigo ao mundo, um garoto de 8 anos que inicia a vida tendo que lidar com a violência em seu lar, passando por Fred um jovem que se apaixona por uma prostituta com mais honra que muito cidadão considerado "de bem", até Odorico um homem no crepúsculo da vida que nos convida a compartilhar seu último pôr do sol.



Nota-se também um interessante exercício que me acostumei à época o fato de naquele período termos pouco espaço para publicar e em edições com poucas páginas, assim me acostumei a produzir hqs que fossem interessantes em poucas páginas o que aguçou penso eu minha capacidade de sintetizar fatos e condensar informação de forma eficaz.

Após alguns anos de sua publicação também me percebi que alameda da saudade foi também pioneira em contar histórias de mulheres fortes enfrentando a violência e o preconceito, Leona a mãe de Fred vítima da violência do marido, Carmen a prostituta e todo o medo e angústias de viver uma vida dupla e repleta do preconceito social e Salma e Susana que apesar de alegres enfrentam as intempéries sociais para serem respeitadas como lésbicas.

Assim é alameda da saudade onde olhando mais atentamente podemos perceber que mesmo na cidade fria ainda prevalece o brilho de almas que tornam a vida especial. pessoas e suas histórias de vida.

Alameda da Saudade foi lançada em 2007 via editora SM uma iniciativa minha e de meu amigo editor José Salles em nossa empreitada como editores nacionais, a edição é simples  com 32 páginas, num terrível erro da gráfica à época a cor da capa ficou lavada e desfocada, ainda assim ganhou a simpatia de muitos leitores que me deram a honra de ler esta pequena saga!

Quem quiser conferir Alameda da Saudade, ainda restam alguns exemplares.
contatos: edoliverstudio@gmail.com 

Nenhum comentário:

Postar um comentário